ANAMNESE e EXAME
FÍSICO
A partir de um questionário adaptado à condição do
paciente e de um exame físico, um reumatologista deverá verificar se existem
indícios que sugerem inflamação das articulações. Como por exemplo: rigidez
matinal superior a uma hora e dor associada a edema em diferentes áreas
articulares (grandes e pequenas). A artrite das articulações da mão
deve estar presente pelo menos seis semanas antes da Artrite Reumatóide ser
diagnosticada.
Em geral, um reumatologista, na conceção de um
diagnóstico preliminar para AR deve atender aos seguintes aspetos:
A AR deve ser também considerada, pelo menos
inicialmente, em pacientes que apresentam dor aguda poliarticular – sinovite.
- Alguns diagnósticos são mais comuns em faixas etárias específicas;
- Antes da menopausa, as mulheres têm de três a quatro vezes maior probabilidade de desenvolver AR. Todavia, após atingir 50 anos de idade, a diferença entre géneros para a AR torna-se menos significativa.
A palpação de várias cápsulas articulares é
importante. A partir deste exame físico pretende-se procurar tumefação dos
tecidos moles e derrames que resultam em edema e influxo de células
inflamatórias para dentro e em torno da membrana sinovial.No caso da AR, este
edema é simétrico.
Para além disso, à que ter em conta certas
particularidades etiológicas:- Alguns diagnósticos são mais comuns em faixas etárias específicas;
- Antes da menopausa, as mulheres têm de três a quatro vezes maior probabilidade de desenvolver AR. Todavia, após atingir 50 anos de idade, a diferença entre géneros para a AR torna-se menos significativa.
EXAMES IMAGIOLÓGICOS
Os exames imagiológicos permitem a deteção de
alterações radiográficas, tais como: erosões das articulações, aumento da área
dos tecidos moles e hipervascularização a nível da membrana sinovial.
a) RAIO X, RX
As radiografias simples das mãos e
dos pés fornecem informações dos danos permanentes na AR sendo importantes na
avaliação do curso da doença.
Vários métodos foram introduzidos
para a classificação de radiografias simples em pacientes com AR. Os dois métodos
mais utilizados na avaliação e classificação de radiografias são com base no
trabalho de Sharp e Larsen.
O Método
Larsen inclui erosões e estreitamento do espaço articular, atribuindo uma nota
a cada articulação examinada, numa escala de 0 a 5, de acordo com radiografias
de referência (ver tabela).
Todas as articulações sinoviais podem ser incluídas no
Método Larsen, e as articulações que são pontuadas devem, por conseguinte, ser
listadas, bem como a pontuação máxima aplicada. A classificação final resulta
na soma de todas as classificações atribuídas a articulações individuais.
a2)
Método Sharp
No método original Sharp, uma pontuação de 0 a 5 é
dada a cada articulação analisada (ver tabela).
Este método pode ser aplicado a 16 áreas de cada mão
e pulso, cada lado das 10 articulações metatarsofalângicas e 2 articulações
intrafalângicas das articulações grandes.
Algumas
desvantagens são atribuídas à utilização de radiografias para diagnóstico da
AR:
-
as alterações radiográficas demoram meses a se desenvolver (não são visíveis);- no início do processo, as radiografias podem ser normais ou mostrar apenas alterações inespecíficas.
b) RESSONÂNCIA MAGNÉTICA, IRM
Estudos têm demonstrado que a imagem por ressonância
magnética (IRM) é mais sensível que a radiografia (RX) na demonstração de danos
articulares erosivos progressivos. A IRM é uma técnica importante que fornece imagens de vários planos e pode visualizar uma gama de estruturas articulares, incluindo membrana sinovial, tendões, ligamentos, osso e cartilagem. Não usa radiação, por isso pode ser repetida quantas vezes forem necessárias.
As erosões são visíveis na IRM, em média, dois anos antes de serem visíveis nas radiografias, e erosões das articulações metacarpo-falângicas só podem ser observadas nitidamente em RX, quando 20%–30% do osso estiver com erosão na IRM.
Na imagem: Sinovite Radiocarpal num homem de 36 anos de idade
com AR precoce do punho ( 8 meses de duração).
c)
ECOGRAFIA MUSCULOSQUELÉTICA, MSKUS
A utilização da ecografia músculosquelético (MSKUS)
tem aumentado numa variedade de condições reumáticas, nomeadamente na AR. A
MSKUS complementa o exame físico, permitindo uma melhor visualização das
mudanças na sinovite erosiva em comparação com a radiografia convencional e
fornece detalhes comparáveis ou complementares à ressonância magnética (IRM).
Este tipo de exame é menos caro do que o IRM, sem muitas contra-indicações (por
exemplo:claustrofobia), e é o único que fornece dinamismo em vez de imagem
estática: incluindo imagens de planos colaterais e de outros planos
clinicamente indicados.
Os avanços tecnológicos têm também aumentado o valor
da MSKUS em doenças reumáticas, incluindo melhorias na escala cinza da imagem
(que é baseado no contraste visível a partir de estruturas que aparecem como
tons de preto, cinza e branco), e maior sensibilidade graças ao power
Doppler - funcionalidade que permite detetar fluxo microvascular na
membrana sinovial afetada com hipervascularização (sinalizando com cor).
Na imagem: Ecografia com Power Doppler –
Face dorsal do pulso, vista longitudinal – a cor indica hipervascularização
ativa e sinovite.
ANÁLISES
LABORATORIAIS
a)
AUTOANTICORPOS
Ao longo do tempo muitos anticorpos têm sido
detetados no sangue de pacientes com AR, mas apenas o fator reumatóide (FR) e
os anticorpos antipeptídeos citrulinados cíclicos (anti-CCP) foram incorporados
na prática clínica de rotina.
O FR é encontrado em 75%-80% dos pacientes com AR
(seropositivos AR), sendo que 15% dos pacientes durante o primeiro ano da
doença são seronegativos para a AR.
O FR não é um marcador específico de diagnóstico
para a AR uma vez que pode também ocorrer em outras doenças, incluindo síndrome
de Sjögren, crioglobulinemia, lupus e certas infecções como a hepatite C,
rubéola, e endocardite bacteriana subaguda. Para além disso o FR também pode
ser encontrado em 10% da população adulta saudável, à medida que envelhecem.
Papel dos
autoanticorpos no prognóstico de AR erosiva –Resultados:
- As erosões estavam presentes em 67 (64%) e ausentes
em 37 (36%) dos pacientes.
- As diferenças nos níveis médios de anti-CCP e em
todos os subtipos do factor reumatóide foram significativas entre os dois
grupos. Anti-CCP, IgM RF, IgA RF, e IgG RF foram encontrados mais
frequentemente em pacientes com erosões do que naqueles sem erosões. - O resultado positivo para anti-CCP ou FR IgM, ou ambos, foi detectado em 64 (62%) dos casos, demonstrando sensibilidade adicional, obtida através de ambos os parâmetros.
Á partida verifica-se que existe uma relação entre os níveis de anti-CCP e IgM RF. Esta relação foi avaliada pelo coeficiente de correlação de Spearman:
Obteve-se
rs= 0,4 , p<0,001, o que indica a existência de uma
relação direta.
Contudo os resultados obtidos individualmente para
anti-CCP+/ IgM RF+, anti-CCP+/IgM RF- e anti-CCP-/IgM RF+ demostram variações
no balanço entre seropositividade e seronegatividade para ambos os parâmetros.
Esta situação está descrita na seguinte tabela:
(Vencovsky,
J., et al,2003)
Pela análise dos resultados
apresentados na tabela, verifica-se que:
- 50 em 67 (equivale a 75%) dos
pacientes com doença erosiva apresentaram resultados positivos para ambos ou um
destes parâmetros, e isto foi significativamente mais frequente do que
resultados positivos em pacientes sem alterações erosivas, que foi encontrado
em 14 de 37 (equivale a 38%) pacientes (p<0.001).
- os resultados positivos obtidos para
o anti-CCP e IgM FR em pacientes com alterações erosivas e pacientes sem
alterações erosivas, mostram que existe aqui uma capacidade de predição para o
desenvolvimento erosivo. Esta relação foi avaliada através do teste χ2:
Obteve-se p=0,019 e χ2=9,93.
O valor p é muito pequeno,
podemos concluir as duas variáveis estão associadas
Ou seja, existe uma relação entre a
quantidade de anti-CCP e FR e o desenvolvimento erosivo em doentes com AR
diagnosticada.
Outras observações verificadas pela
análise da tabela:
-25 em 30 pacientes (corresponde a 83%) que apresentaram resultado
positivo para ambos os testes são do grupo com alterações erosivas. Por outro
lado, só 5 em 14 (equivalente a 17%) eram pacientes do grupo sem alterações
erosivas. Para além disso, 11 em 14 pacientes (correspondendo a 79%) que
obtiveram anti-CCP+/IgM RF- e 14 em 20 (equivalente a 70%) com anti-CCP-/IgM
RF+ pertenciam ao grupo com alterações erosivas.
b) BIOMARCADORES DE INFLAMAÇÃO
A análise da atividade inflamatória é
importante tanto no diagnóstico como no prognóstico da AR. Os reumatologistas
avaliam esta atividade através da taxa de sedimentação dos eritrócitos (erythrocyte
sedimentation rate, ERS) e dos níveis séricos de proteína C-reativa (C-reactive
protein).
b1) TAXA DE SEDIMENTAÇÃO
DOS ERITRÓCITOS, ESR
A ESR é um reagente de fase aguda que
aumenta durante uma variedade de estados fisiológicos, incluindo a inflamação.
Os reagentes de fase aguda são
resultado do aumento da síntese de proteínas pelos hepatócitos induzido por
citocinas inflamatórias, como resultado da lesão de um tecido.
A ESR é uma forma indireta de medição
da elevação da concentração de proteínas de fase aguda no plasma,
particularmente do fibrinogénio (glicoproteína envolvida nas etapas finais da
coagulação sanguínea). Estas proteínas de fase aguda levam à agregação dos
eritrócitos, a qual faz com que eles desçam num tubo de ensaio mais
rapidamente.
A ESR é elevada durante estados
inflamatórios tais como artrite reumatóide activa, mas também a partir de
inflamação que pode ocorrer com infeções. Como tal, não é um parâmetro
específico para a AR.
Podem surgir resultados anormais para a
ESR. Isto é comum durante estados não-inflamatórias, onde a morfologia dos eritrócitos
é alterada, por exemplo: anemia, a idade avançadae até as condições e tempo a
que a amostra está sujeita.
O calculo da ESR é efectuado a partir da seguinte fórmula:
b2) PROTEÍNA C- REACTIVA, CRP
A CRP é outro reagente de fase aguda que aumenta
durante a inflamação.
A CRP está presente em concentrações residuais no
plasma de todos os seres humanos e liga-se a componentes das membranas
celulares e núcleos que são expostos em locais de danos teciduais. Esta
proteína pode, assim, sinalizar estes locais para reparação.A partir de estímulo inflamatório agudo, a concentração de CRP aumenta rapidamente durante 2 ou 3 dias, a picos que geralmente refletem a extensão da lesão do tecido, e na ausência de estímulo contínuo, os níveis séricos diminuem rapidamente. No entanto, os níveis persistentemente elevados são observados em estados inflamatórios crónicos como artrite reumatóide activa.
Tal como a ESR, inflamação pode aumentar a CRP, no
entanto, em caso de anemia, aumento da idade e de armazenamento de amostras de
sangue a CRP não é alterada de forma significativa.
A ESR e a CRP têm pouca utilidade como testes
específicos no diagnóstico da AR, todavia fazem parte dos novos critérios do
ACR/ EULAR para a classificação para RA.
CRITÉRIOS
DE CLASSIFICAÇÃO DA ARTRITE REUMATÓIDE (2010)
Após a descoberta do anti-CCP e da
possibilidade de utilizar IRM, os critérios universais criados pela ACR em 1987
tornaram-se obsoletos.
Um grupo de especialista da ACR (American
College of Rheumatology) e da EULAR (European League Against Rheumatism)
foi formado para desenvolver novos critérios de diagnóstico para AR precoce.
Os critérios incorporam 4 domínios (ver
tabela), incluindo os tipos de articulações envolvidas, presença de
autoanticorpos, marcadores laboratoriais de inflamação, e duração dos sintomas.
Estes critérios são destinados para os pacientes com, pelo menos, uma
articulação com sinovite clínica definida (inchaço, não apenas sensibilidade),
e no qual a sinovite não é explicada por outras doenças, tais como psoríase,
lúpus, ou a gota.
Os pacientes são considerados ter RA se tiverem uma pontuação de pelo
menos 6.
Uma vez que estes critérios estão direcionados para o diagnóstico
precoce da AR, os pacientes com a doença de longa duração, que se tornou
inativa ou menos ativa, mas que satisfizeram estes critérios anteriormente, não
deixam de ser classificados com AR.
Os novos critérios são um passo importante para auxiliar no diagnóstico
da AR em fase inicial, facilitando uma intervenção precoce e dirigida. No
entanto, deve notar-se que estes critérios não se destinam a uma triagem de
cuidados primários ou como ferramenta de referência para diagnóstico da AR. São
critérios de classificação e não critérios de diagnóstico. Ainda não se sabe se
estes critérios são capazes de ser utilizados como critérios de diagnóstico e,
se são bem-sucedidos na identificação de pacientes com AR inicial.
PARÂMETROS CLÍNICOS
PARA TERAPIA DIRIJIDA
Anteriormente, as decisões do médico para o início e
modificação de tratamento dependiam, basicamente, de uma avaliação informal da
atividade da doença e do estado funcional do paciente.
Durante as visitas aos pacientes, médicos, muitas
vezes, determinam o número de articulações inchadas (SJC) e articulações
doloridas (TJC) e usam esta informação para mudar o tratamento na ausência de
objetivos claros. No entanto, há um certo número de limitações à utilização de
SJC e TJC como critérios principais para a terapia de modificação, incluindo
pouca eficácia e falha na previsão de lesões articulares progressivas e incapacitação
funcional.
Felizmente, muitas ferramentas de avaliação clínica
foram desenvolvidas e validadas para quantificar a atividade da doença e o
estado funcional do paciente.
Nesta tabela surgem algumas ferramentas mais
utilizadas para a avaliação clínica da AR com a respetiva fórmula e
classificação:
Legenda:
SJC – (swollen joints) - Nº de articulações
inchadas
TJC – (tender joints) - Nº de articulações
doloridas
mHAQ - modified Health Assessment Questionaire
PGA – Patient Global Assessment
PhGA - Physicians Global Assessment
Enquanto a literatura apoiamedidas terapêuticas dirigidas,
utilizando instrumentos válidos para avaliar os resultados de atividade da
doença no paciente de forma a melhorar os resultados, existem algumas
limitações ligadas a estas ferramentas que devem ser reconhecidas:
- a avaliação é realizada unicamente a 28 articulações (excluindo outras que também são igualmente afetadas pela AR, por exemplo: tornozelos, anca).
- potenciais fatores de confundimento a partir dos questionários respondidos pelos pacientes; utilizar medidas objetivas, tais como o ERS ou RCP ou a contagem de articulação pode ajudar a combater esse erro.
- a avaliação varia segundo a opinião de cada médico.
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